O SENHOR
Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu ao autor chamando-o “o senhor”:
Senhora:
Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele não é, de nada, nem de ninguém.
Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu está em não querer esconder sua condição, e esta nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres a quem chamáveis você escolhestes a mim para tratar de senhor, e bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa e na prata de meus cabelos. Senhor de muitos anos, eis ai; o território onde eu mando e no pais do tempo que foi. Essa palavra “senhor”, no meio de uma frase, ergueu entre nos um muro frio e triste.
Vi o muro e calei: não e de muito, eu juro, que me acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.
BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A escolha do tratamento que se queira atribuir a alguém geralmente considera as situações especificas de uso social. A violação desse principio causou um mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve essa violação é:
- A) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.”
- B) “A única nobreza do plebeu está em não querer esconder a sua condição.”
- C) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa.”
- D) “O território onde eu mando é no país do tempo que foi.”
- E) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza; mas também não era vez primeira.”
A alternativa correta é letra A) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.”
a) Correta. Esta alternativa descreve (no sentido de revelar) a violação do código de conduta da jovem em relação ao Senhor. Enquanto todos eram chamados de Você, ela o chamaria de Senhor, apresentando a quebra do tratamento e o incômodo gerado por ele.
b) Incorreta. Aqui não há a descrição da atitude da garota, mas uma referência à atitude dele (autor) em relação ao tratamento.
c) Incorreta. Nesta alternativa, há o porquê de ela ter violado o princípio, não a descrição da violação, que é precisamente chamá-lo de senhor no meio da conversa com outras pessoas.
d) Incorreta. O termo senhor é tomado pelo personagem que escreve a carta como uma referência a pessoas que ocupam uma posição hierárquica superior. O seu comentário ilustra metaforicamente que ele não é senhor (dono, autoridade) de nada. No caso, não se trata de uma descrição, mas de uma metáfora.
e) Incorreta. Aqui não há menção à atitude de violação da jovem em relação ao personagem incomodado, mas somente a apresentação dos sentimentos deste.