LABAREDAS NAS TREVAS: FRAGMENTOS DO DIÁRIO SECRETO DE TEODOR KONRAD NALECZ KORZENIOWSKI
20 DE JULHO [1912]
Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre Stephen Crane. Ririam da sugestão. […] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba que e Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe.”
20 DE DEZEMBRO [1919]
Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo.
FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento).
Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de
- A) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a consequência.
- B) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas partes em questão.
- C) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de circunstâncias apresentadas na outra.
- D) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta uma orientação argumentativa distinta e oposta à outra.
- E) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma.
A alternativa correta é letra B) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas partes em questão.
O trecho se refere ao fato de muito jornal ter sido escrito, muitos dias terem passado, ou seja, mostrando que se passou muito tempo entre julho de 1912 e dezembro de 1919. O jornal é uma publicação diária que noticia eventos de interesse imediato. Há, portanto, uma ideia popular de que jornal de ontem só serve para embrulhar peixe. Assim, o autor utiliza-se da expressão “muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal” para demonstrar a passagem do tempo, estabelecendo, portanto, uma relação semântica de temporalidade.