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Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985

 

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a

  • A) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.
  • B) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.
  • C) alternância de tempos de pretérito para ordenar os acontecimentos.
  • D) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.
  • E) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

A alternativa correta é letra C) alternância de tempos de pretérito para ordenar os acontecimentos.

a) Incorreta.O valor atribuído às frases (de que seriam curtas) é questionável – não foi estabelecido um critério nesta alternativa que justificasse tal classificação, como exemplo, a ausência de períodos compostos. Além do mais, a dinamicidade conferida por um texto estruturado por frases curtas não necessariamente contribuiria para a organização da sequência dos eventos narrados, que depende mais de elementos coesivos e da coerência textual.

b) Incorreta. Advérbios de lugar pouco aparecem no texto e, ainda que fossem bastante marcados, pouco contribuiriam para a compreensão da sequência dos eventos, que dependeria mais de marcadores temporais, como adjuntos adverbiais de tempo.

c) Correta.Ao utilizar verbos no pretérito perfeito (“embarquei”, “escolhi”, “fiquei”) e no pretérito mais-que-perfeito (“falara”, “passara”, “estivera”), o autor organiza a sequência de seus eventos. O pretérito mais-que-perfeito é empregado para determinar um fato anterior a outro, como a fala de João Luso sobre o sanatório de Cladavel, que precede a escolha do escritor.

d) Incorreta. Os comentários e avaliações pessoais do narrador (respectivamente exemplificados pelas colocações: “porque a respeito dele me falara João Luso” e “um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto”) não exercem a função de situar cada evento no texto, mas sim de explicar escolhas, esclarecer colocações ou demarcar a subjetividade.

e) Incorreta.Não há informações suficientes para determinar a relevância da participação das pessoas mencionadas na trajetória de vida do escritor, nem saber se o texto alude a elas. De qualquer forma, ainda que esse conhecimento fosse transmitido ao leitor, seria necessária sua complementação, por meio de marcadores temporais, para que eles contribuíssem para a indicação da sequência dos eventos.